No boom dos compactos no mercado imobiliário de São Paulo, as incorporadoras que atuam no segmento têm contratado empresas especializadas em gestão patrimonial para facilitar a vida de um perfil específico de comprador desse tipo de imóvel: o investidor.
Individual ou institucional, esse cliente é predominante nessa categoria de produto — sobretudo em um momento de juros elevados no financiamento bancário —, e o principal objetivo dele é garantir mais eficiência à gestão de seus imóveis em meio a outros ativos da carteira.
Mobiliar, equipar, administrar os contratos dos inquilinos e cuidar da manutenção dos imóveis são tarefas que demandam expertise e atenção, e a solução encontrada pelo setor tem sido a contratação de empresas focadas em atender a essas demandas.
“São pessoas que não têm tempo para administrar seus bens. Por isso, o serviço de gestão profissional se tornou um diferencial em nossa estratégia de vendas. O público investidor nos pedia isso”, afirma Lucas Araújo, diretor de Marketing e Inteligência de Mercado da Trisul.
Plataformas de gestão profissional dos ativos cuidam de mobília, manutenção e limpeza dos apartamentos alugados, sem dor de cabeça para o proprietário — Foto: TRISUL/DIVULGAÇÃO
Segundo o executivo, mais de 80% das unidades tipo estúdio e de um dormitório construídas pela incorporadora foram vendidas a investidores. Desse total, 40% são adquiridas por clientes de fora da capital. “Administrar diversos imóveis à distância é quase impossível. Por isso, a oferta tem sido tão bem recebida.”
Atualmente, a Trisul tem dez empreendimentos com unidades compactas, entre 20 e 45 metros quadrados. Para os próximos anos, outros edifícios da mesma categoria serão entregues em bairros de alto interesse na cidade.
O parceiro da companhia na empreitada é a 360 Suítes. Criada em 2019, a empresa oferece consultoria completa ao investidor: compra, decoração da unidade, gestão de entrada e saída dos inquilinos, limpeza, reformas e pagamentos pela estadia.
“Com a opção do ‘short stay’, garantimos uma rentabilidade maior do que em aluguéis tradicionais, por meio de um algoritmo de precificação que considera o pico de demanda em determinadas épocas do ano”, explica Vitor Buzatti, gerente de Marketing de Produto da 360 Suítes.
Estúdios têm alta procura no modelo “short stay”, principalmente em temporadas de eventos internacionais na cidade — Foto: TRISUL/DIVULGAÇÃO
Segundo ele, a ocupação de curta temporada tem forte variação positiva em semanas de shows internacionais, feiras de negócios ou grandes eventos esportivos que ocorram na cidade.
“No final de semana da Fórmula 1 do ano passado, por exemplo, alugamos um estúdio de 20 metros quadrados na Praça da Sé, a 30 quilômetros de distância do Autódromo de Interlagos, por R$ 900 a diária. Em dias normais, custa R$ 250. Para o investidor, é muito vantajoso”, opina Buzatti.
A plataforma Charlie também vê crescer suas operações em função das parcerias com incorporadoras. A gestora imobiliária de locação com serviços, fundada em 2020, saltou de 250 unidades administradas em janeiro de 2022 para quase 1,5 mil em 12 meses. O volume é equivalente a 55 mil metros quadrados e deve aumentar com a recente adesão ao portfólio do edifício 319 PJM Studios, da Marquise Incorporações, nos Jardins.
“As incorporadoras entenderam que havia muito valor na oferta desse tipo de serviço. Em vez de apenas vender um imóvel, por que não oferecer também uma gestão profissional da propriedade?”, indaga Allan Sztokfisz, CEO da Charlie.
Segmento de topo também adere ao modelo
Idea!Zarvos e Yuca selam acordo que envolve 18 apartamentos de alto padrão, avaliados em R$ 34 milhões. Pacotes de locação podem chegar a R$ 19 mil
Apartamentos maiores e com “cara de casa” para inquilinos de alta renda são focos da proposta de parceria entre a Idea!Zarvos e a Yuca — Foto: IDEA!ZARVOS/DIVULGAÇÃO
Nem só de compactos vive o modelo de gestão de ativos para renda na capital paulista. Em dezembro de 2022, a incorporadora Idea!Zar vos e a plataforma Yuca anunciaram parceria que envolve 18 apartamentos de 60 a 150 metros quadrados nos edifícios Harmonia e Lacerda 1040, na Vila Madalena, cujo valor de mercado chega a R$ 34 milhões.
Com projetos concebidos por nomes de peso da arquitetura, como Isay Weinfeld e Triptyque, os imóveis têm pacotes de locação que variam entre R$ 10 mil e R$ 19 mil mensais.
“O foco são projetos únicos, bem localizados, assinados por arquitetos premiados e com estética diferente dos padrões repetitivos da cidade. Atualmente, temos em desenvolvimento cinco empreendimentos com esse perfil”, informa Otávio Zarvos, CEO da Idea!Zarvos.
Em uma joint venture com a gestora de investimentos norte-americana Paladin Realty, a companhia desenhou um produto que pretende atuar na categoria “multifamily” para o público de alta renda.
“Vamos preencher o topo da pirâmide do nosso portfólio. O foco inicial era atender jovens profissionais em início de carreira, mas, agora, são executivos, expatriados e pessoas em transição de imóvel ou de estado civil, acostumadas a um padrão de moradia elevado”, afirma Rafael Steinbruch, CEO da Yuca.
Em fevereiro, a empresa assumiu a administração de 70 apartamentos do edifício Onze22, fruto da mesma parceria. Para Steinbruch, esse segmento tende a crescer no país a partir do segundo semestre, quando deverão aumentar os estoques das incorporadoras com a entrega de empreendimentos com poucas unidades vendidas.
“É um cenário que pode trazer oportunidades para fundos de investimento que queiram comprar ativos estocados e colocar para gestão”, analisa.
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