O governo nomeou, nesta segunda-feira, os 27 nomes que vão comandar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos Estados. A corporação aguardava as nomeações, porque as superintendências estavam sendo tocadas por substitutos, o que, segundo relatos, estava causando alguns prejuízos administrativos.
As indicações para o cargo passaram por um pente-fino político da Casa Civil, inclusive com a análise de publicações nas redes sociais. A avaliação é que a PRF foi a corporação que mais se alinhou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por isso o cuidado foi redobrado.
Os atos publicados nos Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira foram assinados pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli. Ele ocupou o cargo de interventor da Secretaria de Segurança no Distrito Federal após os atentados de 8 de janeiro.
Os cargos de chefia nos Estados estavam vagos desde 19 de janeiro, quando o governo exonerou praticamente todos os superintendentes. da corporação.
Entre os 27 indicados, há apenas duas mulheres. Elas irão comandar as superintendências do Mato Grosso (Kellen Arthur Preza Nogueira) e de Rondônia (Luciana da Silva Alves).
No Rio, a PRF vai ser chefiada pelo inspetor Vitor Almada da Costa. Sob o governo Bolsonaro, a PRF foi criticada por participar de operações em comunidades que terminaram em chacinas.
Para São Paulo, Estado com maior população e a maior frota de veículos circulando no Brasil, o escolhido foi o policial Edson José Almeida Júnior, que estava lotado na delegacia de Marília, no interior paulista.
Como mostrou o Valor nesta segunda-feira, sob o governo Lula, a PRF deu início a um reposicionamento para tentar aumentar a conscientização de seus integrantes sobre direitos humanos. A corporação vai retomar uma disciplina focada na área para novos agentes e criar uma Coordenação-Geral de Direitos Humanos para tratar do assunto.
Além disso, também prepara cursos para orientar os policiais em abordagens a públicos específicos, como membros da comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência ou transtornos de comportamento.
As medidas fazem parte da tentativa do atual diretor-geral Antônio Fernando Oliveira de descolar a corporação da imagem de bolsonarista e também servirão como uma resposta ao caso Genivaldo.
Em maio de 2022, Genivaldo de Jesus Santos foi morto por três policiais rodoviários após ser parado em uma rodovia de Sergipe. O homem, diagnosticado com esquizofrenia, foi imobilizado dentro de uma viatura, que foi transformada em uma espécie de câmara de gás. A morte ocorreu por asfixia.
O episódio aumentou as críticas em relação à corporação. Na época, veio à tona que a cúpula da PRF havia reformado a grade de disciplinas oferecida nos cursos de formação de novos agentes e retirado a matéria sobre direitos humanos.
O alinhamento com o bolsonarismo chegou ao seu ápice nas eleições, quando a PRF foi acusada de realizar operações no Nordeste, um reduto petista, para tentar atrapalhar a chegada de eleitores aos locais de votação. Após o segundo turno, quando apoiadores de Bolsonaro fecharam rodovias em todo país, também houve desconfiança em relação a atuação da corporação. O então diretor-geral Silvinei Vasques é alvo de inquéritos por conta dos episódios. Ele se aposentou da corporação, mas ainda responde a processos internos.
Polícia Rodoviária Federal (PRF) — Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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